O perfil do e-commerce brasileiro e o comportamento na Black Friday

O perfil do e-commerce brasileiro e o comportamento na Black Friday

Segundo o relatório “O Perfil do E-Commerce Brasileiro” de 2020, realizado pelo BigData Corp, no Brasil temos aproximadamente 28 milhões de sites. Contudo pouco mais de 50% estão ativos, de fato. Ou seja, algo em torno de 14 milhões.

Interessante que, considerando o Boletim Mapa de Empresas do 3º Quadrimestre de 2020, no Brasil havia pouco mais de 19,9 milhões de empresas ativas (entenda como ativas, CNPJs que tiveram movimentação bancária). É como se no Brasil, aproximadamente 70% das empresas tivessem websites ativos, seja institucional, de comércio eletrônico, ou outros.

É certo que precisamos considerar que um mesmo CNPJ pode ter diversos websites, incluindo domínio e subdomínios, e outros, nenhum. Contudo, ainda assim, é um número bem interessante.

De acordo com a BigData Corp, foram identificados pouco mais de 4,5 milhões de sites corporativos, e tivemos cerca de 1,34 milhão de sites de e-commerce mapeadas em 2020. Ainda segundo eles, isso significa que naquele ano 8.48% dos sites ativos eram e-commerce, crescimento de mais de 20% em relação a 2019. E claro, a pandemia da covid-19 foi um elemento decisivo para este aumento.

Traçando novamente um paralelo com a quantidade de CNPJs ativos no país em 2020, o número acima significaria apenas 6,7% de empresas que operam no e-commerce. Novamente, vale destacar que um mesmo CNPJ pode ter mais de um website para comercializar produtos ou serviços na internet, portanto, na prática este número tende a ser menor. Além disso, outro dado muito relevante é que, segundo o BigData Corp, 92% dos e-commerce’s só possuem lojas virtuais. Assim, podemos entender que se trata de CNPJs abertos objetivando vendas online logo na partida.

Portanto, apesar da sensação geral de que a concorrência está cada dia mais acirrada, muito devido as pouquíssimas gigantes que operam, percebe-se que há muito mais espaço para crescer do que o inverso. Basta saber explorar e navegar. E claramente, assim como há muitas operações físicas que não estão vendendo na internet, há muitos outros setores além do comércio que ainda não se digitalizaram.

Novamente, segundo o Boletim Mapa das Empresas, a distribuição das empresas no Brasil em 2020 estava concentrada em Serviços (46,4%) e Comércio (34,8%), totalizando mais de 81% do mercado. Das empresas que realizam transações comerciais na internet, vemos um movimento mais natural do comércio, mas nem tanto assim de serviços. Aparentemente, ainda não está claro que praticamente todo serviço também pode ter suas operações comerciais digitalizadas. E o que dirá os outros setores do gráfico abaixo, como a indústria de transformação, construção civil, agropecuária e extração?

Imagem: Distribuição das Empresas no Brasil - Mapa de Empresas (Gov.br)

Temos empresas vendendo carros pela internet, apartamentos, helicópteros, aviões, embarcações e até viagens espaciais! Por que, por exemplo, o setor agropecuário ainda possui dúvidas se irá conseguir comercializar animais pela internet? Por que perder a oportunidade de fazer negócios sem barreiras físicas, e aproveitando datas comerciais como a Black Friday no digital?

Voltando ao relatório do BigData Corp, do montante total de cerca de 14 milhões de websites ativos, mais de 88% são considerados pequenos em termos de tráfego, ou seja, tem até 10 mil visitas por mês. Websites considerados grandes (isto é, com visitas/mês superior a 500 mil) não chegam a 9%. Um dado interessante é que, mais de 76% dos sites de e-commerce contam com um portfólio de até 10 produtos. Somente 11.28% dos e-commerces contam com mais de 100 produtos em seu portfólio, número bem parecido com o dos sites com maiores números de visitantes.

Isso aponta para uma tendência já identificada no mercado de forma geral: mais produtos significa também um site com mais visitas. Inclusive, este é um dos principais motivos para o movimento recente de diversas marcas que estão transformando suas operações em marketplaces, uma vez que neste modelo, a operação logística pode ficar a cargo do vendedor parceiro.

Aliás, ainda sobre marketplaces, notamos que cada vez mais e-commerces procuram os marketplaces como alternativa para aumentar o número de vendas. De acordo com o BigData Corp, em 2020 mais de 12% dos e-commerces estão em mais de 5 marketplaces, e mais de 40% em até 2 marketplaces.

Para a empresa que vende online, é importante perceber que o perfil do consumidor da Black Friday no Brasil tem amadurecido bastante. Há uma forte tendência de consolidação da data sazonal em termos de comportamento, no qual quase 80% ao menos acompanha as ações feitas pelas empresas nesta data. Porém, o número de compradores anuais é pouco mais de 1/4 (26%). Isso significa que existe uma percepção muito grande de que nem todos os anos há produtos a preços de oportunidade para muitos dos consumidores. Mas também que se tiver uma boa oportunidade, este número irá saltar.

De acordo com a pesquisa Black Friday 2021, realizada pela Driven.Cx, em parceria com as empresas Mindminers, ClearSale e Omnik, para 51,8% dos respondentes (ou seja, mais da metade), a Black Friday se tornou uma data em que existem produtos de grande oportunidade, porém, não há mais uma visão de que todos os produtos estão mais baratos, de que todos eles são boas oportunidades neste período.

Para quase 30% das pessoas permanece a sensação de que na verdade, esta se trata de uma data comercial sem vantagens reais, o que ficou popularmente conhecido no Brasil como “Black Fraude”. Tanto é assim que mais da metade (53,6%) não aguardam o período da Black Friday para realizarem suas compras.

Além disso, quase 8 a cada 10 compradores, pesquisam os preços antes de fazerem suas aquisições, número este que já foi até maior, mas não podemos nos esquecer que tivemos mais pessoas em 2020 realizando compras pela internet pela primeira vez. E a maior fonte de pesquisa dos consumidores neste período ainda é o Google, com mais de 57% de representatividade, com os e-commerces de marca ficando em 2º lugar (42,9%).

Mas este amadurecimento do mercado brasileiro revela também uma proximidade um pouco maior da Black Friday norte-americana, que sempre teve por objetivo a liquidação dos últimos estoques de produtos, visando liberar espaço físico para a chegada das compras que as empresas fizeram de novos produtos para as vendas de Natal.

Tudo isso só demonstra que, para um lojista vender bem na Black Friday, não precisa necessariamente ter todos os produtos mais baratos, os consumidores tem entendido este período como uma oportunidade interessante para compra, se realmente o lojista oferecer uma condição diferente, pois o consumidor que espera este momento para comprar, muito provavelmente sabe qual é o preço referência, e irá comparar.

Outra mudança de comportamento é que quem compra no período da Black Friday no Brasil, não espera mais somente a última sexta-feira do mês de novembro. Isso claro, foi um resultado do mercado com um todo, que passou a distribuir ações comerciais e ofertas ao longo do mês, ao invés de concentrar tudo em um único dia. Com isso, segundo a pesquisa Black Friday 2021, 25,8% dos consumidores pretendem realizar suas compras ao longo do mês de novembro, 31% na semana da Black Friday, 24,1% após, e somente 18,4% aguardam de fato o famoso dia chegar. Esta mudança é positiva para o mercado como um todo assim como para o lojista, mas exige planejamento maior ao longo do tempo.

Caso você procure dicas de categorias para apostar este ano, a pesquisa indica que as categorias: eletroeletrônico, moda, e cosméticos e perfumaria são aquelas com maior probabilidade de vendas, e que os marketplaces serão novamente os locais mais procurados pelos consumidores (quase 60% dos respondentes), portanto, é essencial disponibilizar o seu portfólio nestes canais. Além disso, a pesquisa Black Friday 2021 demonstrou que, normalmente quem compra na Black Friday, adquire produtos/serviços para si mesmo (63,6%), mas também podem comprar produtos para a família (43,2%). Sendo assim, pense nisso na hora montar o seu portfólio e de buscar oferecer condições comerciais realmente diferenciadas para seu público, pois a expectativa de vendas do lojista nesta data sazonal, precisa estar alinhada com o desejo do consumidor.

Paulo Moreira

Eu sou o que eu faço profissionalmente? Eu sou meu crachá? Se sim, tenho experiências como gestor de negócios digitais, em especial e-commerce's e marketplace's, além de ser professor, colunista e palestrante. Tenho formação em Publicidade e Propaganda, MBA em Marketing e Mestrado em Administração. Se não, sou inventor, escritor, criador de conteúdo, artista, humorista, companheiro, filho ... e assim por diante. Ou seja, sou só mais um cara comum com muitas ideias.